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Hoje na História:17 de maio de 2008: Era uma vez Zelia Gattai, graças a deus

Filha de anarquistas italianos pobres (caçula de uma prole de cinco), Zelia Gattai nasceu numa próspera São Paulo no dia 2 de julho no ano de 1916. Foi na infância, na casa da Alameda Santos, sem fechaduras nem trancas, que assistiu os primeiros automóveis entrarem em circulação e a cidade se encantar com as películas do cinema mudo. Memórias que ela mesma revelaria anos mais tarde ao publicar seu primeiro livro, Anarquistas graças a Deus (1979), escrito sem qualquer pretensão literária.
Na juventude, dando continuidade ao engajamento familiar, viveu a experiência política e cultural da paulicéia, e fez amizade com diversos intelectuais da época. Aos 20 anos, casaria-se com um deles, Aldo Veiga, militante do Partido Comunista, com que conviveu por oito anos, e teve seu primeiro filho: Luiz Carlos.
Zélia e Jorge se conheceram quando ele, então um experiente líder comunista chegou a São Paulo, logo depois do fim da Segunda Guerra (1939-1945) e da ditadura do Estado Novo (1937-1945), para fazer a campanha pela libertação dos presos políticos. O encontro foi durante um congresso de literatura. Não demoraria para que, diante de tantos interesses em comum, se descobrissem também apaixonados, dando início a um relacionamento que perduraria para sempre, até a morte do escritor em 6 de agosto de 2001.
Com Jorge, Zélia teve mais dois filhos. João Jorge nasceu em 1946. Paloma, cinco anos mais tarde, em Praga, quando a família já tinha deixado o Brasil, por questões políticas. Exilado, o casal tem uma intensa experiência cultural convivendo no meio intelectual europeu.
De volta ao Brasil em 1952, a família passa a morar na casa dos pais de Zélia, até decidir fixar residência no número 33 da Rua Alagoinhas, em Salvador. É nesse endereço em começa a fase literária de Zélia, então com 63 anos. "Eu aprendi a gostar de escrever. Quando escrevo me realizo e sinto emoções como nunca. Tenho um prazer infinito em escrever".
Depois de Anarquistas..., a idéia do segundo livro, Um Chapéu para Viagem(1982) também dedicado às suas memórias, surge a partir da proximidade dos 50 anos de lançamento do primeiro romance de Jorge Amado, como uma forma de participar das homenagens prestadas ao marido. A obra é um retrato de Zélia sobre a infância de Jorge Amado e da família do escritor.
Aliás, as aventuras no endereço baiano também se tornaria uma obra de Zélia. O livro A casa do Rio Vermelho (1999) é um gesto de amor para Jorge Amado e o relato do agitado e apaixonante cotidiano dos dois em Salvador.

Imortal, é a sexta ocupante da Cadeira nº 23, eleita em 7 de dezembro de 2001, na sucessão de Jorge Amado e recebida em 21 de maio de 2002 pelo Acadêmico Eduardo Portella. Zélia Gattai morreu no dia 17 de maio de 2008, aos 91 anos, na tarde de um sábado, no Hospital Bahia, após ficar internada por um mês. Seu corpo foi cremado e suas cinzas foram depositadas na casa do Rio Vermelho, da mesma forma como aconteceu com Jorge Amado.
Deixou um legado de 14 livros publicados e muitas histórias para contar.

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